Qua, 22 Dez, 05h43
Por Tiago de Oliveira, especial para o Yahoo! Brasil
A presidente eleita, Dilma Rousseff, fechou as 37 indicações de ministros de seu governo sem conseguir emplacar nenhum peso-pesado da política, nenhuma estrela. A maioria das nomeações vieram do baixo clero, inexpressivos, fazendo prevalecer as pressões dos partidos que apoiaram a eleição da petista.
O ministério que Dilma posará para foto oficial em janeiro contrasta com o governo montado há oito anos por Luiz Inácio Lula da Silva, que conseguiu tirar nomes consensuais do mundo empresarial, jurídico, político e artístico para vir a Brasília.
A presidente eleita não fez valer sua vontade na maior parte dos casos. Dilma não encontrou espaço para o economista Nelson Barbosa, que será secretário-executivo no Ministério da Fazenda, para a antiga colaboradora Maria das Graças Foster, diretora de Gás e Energia da Petrobras; assim como para o economista Luciano Coutinho, presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
O governo Dilma é marcado pela continuidade. Até mesmo aliados da presidente eleita usam de ironia para classificar a nova Esplanada. "A sensação é de que é um ministério velho de continuidade, com indicações dos partidos e do presidente Lula. Ela foi passada para trás", afirmou um parlamentar petista.
Na Saúde, a presidente eleita tentou colocar o médico Gonzalo Vencina, superintendente do Hospital Sírio Libanês. Teve de se contentar com o médico Alexandre Padilha, ministro de Relações Institucionais e servidor de carreira da Funasa, que até 2009 ocupava cargos de segundo escalão da Esplanada. No Ministério do Esporte, Dilma gostaria de ter indicado uma mulher, a deputada federal eleita Luciana Santos. Não conseguiu e manteve o atual titular Orlando Silva. Por pressão do presidente Lula, Dilma manteve os ministros Guido Mantega (Fazenda), Fernando Haddad (Educação), Nelson Jobim (Defesa) e Izabella Teixeira (Meio Ambiente).
Dilma indicou o senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) para o Ministério da Previdência. Ex-presidente do Senado, o peemedebista teve atuação independente, chegou a desafiar o presidente Lula ao rejeitar uma medida provisória e foi reeleito em outubro graças ao apoio da oposição do DEM. No Ministério do Turismo, o escolhido foi Pedro Novais (PMDB-MA), considerado um deputado sem expressão no Parlamento, o chamado baixo clero. Novais é acusado de usar parte da verba indenizatória a que tem direito na Câmara para bancar uma festa num motel em São Luis.
Não só, fez nomeções por falta de opção como Alfredo Nascimento (PR) nos Transportes, a contragosto. Nomeou Ideli Salvati (PT-SC) para a Pesca por conta da dificuldade de indicar mulheres para o governo. No início da montagem do governo, Dilma afirmou a auxiliares que não usaria nenhum nome de político derrotado nas urnas. Ideli e Nascimento são exemplo disso. Disputaram e perderam os governos de Santa Catarina e Amazonas, respectivamente.
Dilma também teve dificuldade de indicar mulheres. Foram nove mulheres indicadas. No Ministério do Desenvolvimento Agrário, que ela queria colocar a secretária de Planejamento de Sergipe, Mária Lucia Falcón, acabou entrando o deputado federal eleito pela Bahia Afonso Bandeira.
Entre as mulheres a principal aposta da presidente eleita é a futura ministra do Planejamento, Miriam Belchior. Petista de carteirinha que ocupava um posto importante, mas de segundo escalão na Casa Civil -a coordenação do Programa de Aceleração do Crescimento-, Miriam será responsável pela coordenação dos projetos federais. Em outro posto chave estará a petista Tereza Campelo, no Ministério do Desenvolvimento Social, pasta responsável pela gestão do Bolsa Família.
O ministério de Dilma é bem diferente da equipe que tomou posse com Lula em janeiro de 2003. Na foto oficial, constavam o empresário da Sadia Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior), o engenheiro agrônomo Roberto Rodrigues (Agricultura), então presidente da Associação Brasileira de Agribusiness, o músico Gilberto Gil (Cultura), o advogado Márcio Thomaz Bastos (Justiça) e o ex-presidente mundial do Bank Boston, Henrique Meirelles, no Banco Central.
O sucesso de um governo não é alcançado somente com nomes, mas com competência política e gerencial dos ocupantes. Portanto, não é possível prever o resultado que trará a equipe de Dilma. O fato é que a presidente eleita teve enorme dificuldade de montar uma equipe por conta de pressões dos partidos e do mentor Luiz Inácio Lula da Silva e o resultado é uma Esplanada sem pesos-pesados.
Confira a lista de nomeados:
Advocacia-Geral da União: Luís Inácio Adams
Ministério da Agricultura e Pecuária: Wagner Rossi
Secretaria de Assuntos Estratégicos: Moreira Franco
Banco Central: Alexandre Tombini
Casa Civil: Antônio Palocci
Ministério das Cidades: Mário Negromonte
Ministério de Ciência e Tecnologia: Aloizio Mercadante
Secretaria de Comunicação Social: Helena Chagas
Ministério das Comunicações: Paulo Bernardo
Controladoria-Geral da União: Jorge Hage
Ministério da Cultura: Ana de Hollanda
Ministério da Defesa: Nelson Jobim
Ministério do Desenvolvimento Agrário: Afonso Bandeira Florence
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior: Fernando Pimentel
Ministério do Desenvolvimento Social: Tereza Campelo
Secretaria Especial de Direitos Humanos: Maria do Rosário
Ministério da Educação: Fernando Haddad
Ministério dos Esportes: Orlando Silva
Ministério da Fazenda: Guido Mantega
Gabinete de Segurança Institucional: General José Elito Carvalho
Secretaria Especial de Igualdade Racial: Luiza Bairros
Ministério da Integração Nacional: Fernando Bezerra Coelho
Ministério da Justiça: José Eduardo Cardozo
Ministério do Meio Ambiente: Izabella Teixeira
Ministério de Minas e Energia: Edison Lobão
Ministério da Pesca e Aquicultura: Ideli Salvatti
Ministério do Planejamento: Miriam Belchior
Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres: Iriny Lopes
Secretaria de Portos: Leônidas Cristino
Ministério da Previdência Social: Garibaldi Alves
Ministério das Relações Exteriores: Antônio Patriota
Ministério da Saúde: Alexandre Padilha
Ministério das Relações Institucionais: Luiz Sérgio
Secretaria-Geral da Presidência: Gilberto Carvalho
Ministério do Trabalho: Carlos Lupi
Ministério dos Transportes: Alfredo Nascimento
Ministério do Turismo: Pedro Novais